A minha amiga Calidora me pediu para divagar sobre um assunto muito
conhecido no Brasil, que é usar palavras de conceito religioso afro como algo
ruim ou perigoso.
Vou iniciar com a palavra MACUMBA.
Instrumento Macumba |
A palavra “Macumba” é usada para se referir a feitiços
religiosos contra outra pessoa ou “Macumbeiro” para se referir a pessoa que
cultua a religião afro-brasileira, não diferenciando Umbanda ou Candomblé, que
como já havia escrito anteriormente, em um texto sobre Exús, Candomblé é uma religião
Africana, vinda dos escravos negros e Umbanda é uma religião Brasileira, na
qual surgiu por causa de uma mistura de algumas culturas africanas e
brasileiras, com catolicismo e espiritismo.
Inicialmente quero deixar claro que é impossível dar uma explicação
única válida sobre alguma mitologia africana ou crendice, pois dentro da
religião afro não temos um livro base como um alcorão ou bíblia. Tudo que é
aprendido passa do Zelador de santo (Ou pai /mãe de santo) para filho, conforme
seu tempo de religião e “merecimento”. Como a palavra é passada de boca em
boca, algumas histórias podem ocorrer pequenas variações e/ou diversas histórias
paralelas para a mesma coisa. Como vamos saber a real história? Bom, se for de
mitologia, uma forma válida seria indo para a África conversar com os mais
velhos sacerdotes ( O que acho bem difícil pois lá não temos a abertura daqui)
,ou podemos filtrar histórias parecidas e acrescentarmos ao nosso conhecimento.
Umbanda e Candomblé é uma religião para se morrer ignorante. Nunca aprenderemos
tudo a respeito.
Mas vamos aos conceitos mais lógicos relatados
historicamente:
Inicialmente, a palavra macumbeiro só era utilizada para
falar sobre pessoas que tocavam o instrumento musical de percussão africano
chamado aqui no Brasil de Macumba. Acho que o melhor comparativo para explicar
o que ele é seria o reco reco. Já li relatos que dizem a respeito de pessoas
usarem o termo estão “tocando macumba”, quando ouviam o instrumento. Conforme
foi passando o tempo, começaram a usar a palavra macumba para manifestação
relacionada a religião.
Conforme Antenor Nascentes, mesmo sendo incerta a real
origem da palavra, a mesma poderia ter sido ramificada da palavra africana
Ma’kuba (Cadeado em Quimbundo, língua usada em casas de Candomblé mais antigas,
como a Nação Angola). Sua explicação seria porque os ritos tratam de “fechar o
corpo”.
Pesquisando no famoso GOOGLE encontraremos milhões de
versões, umas mais lógicas e outras preconceituosamente ridículas. Mas o importante
de tudo não é a origem, e sim termos a consciência que a mesma não vem de algo
ruim ou perigoso.
Quero aproveitar para escrever sobre outro mito muito usado
aqui no Brasil.
Quem já não usou o ditado “Quem não pode com a Mandinga não
carrega patuá?” ou “Quem tem medo de mandinga não carrega patuá?”.
O que você pensa quando ouve a palavra Mandinga? Eu
respondo: Feitiço.
Para entender este ditado precisamos ir lá atrás, na época
da escravidão novamente.
Os mandingas eram negros africanos que seguiam a religião
mulçumana.
Sim, nem todos os negros seguiam a religião conhecida como
Candomblé no Brasil.
Como eles eram mais instruídos e “submissos”, geralmente
tinham mais liberdade e confiança de seus feudos, sendo colocados como líderes
dentro dos grupos de escravos.
Com esta liderança já imaginamos que caso algum negro
tentasse escapar, os Mandingas eram responsáveis por trazer os fujões de volta
e dar os corretivos para que isso não acontecesse novamente.
Para quem não conhece a religião mulçumana, os religiosos
são obrigados a fazer orações diárias durante o dia.
Por isso os Mandingas usavam uma bolsinha costurada e
pendurada no pescoço, com páginas do alcorão dentro que chamavam de Patuá!
Quando um mandinga ia à caça de um fujão e o mesmo também
era mandinga, o “capitão do mato”, ou “líder”, passava o famoso “pano” por
causa da afeição religiosa.
Aí vamos a parte principal.
Os escravos de outras tribos perceberam o privilégio e
começaram a criar bolsinhas (Patuás) falsas com folhas ou papéis de qualquer
tipo para não terem consequências caso fossem pegos.
Era uma excelente ideia não? Sim era, mas o que não contavam
é que o Mandiga abria o patuá para ver a página do alcorão, então, vendo que
estavam tentando enganá-lo, o negro fujão geralmente sofria retaliação
permanente.
Agora podemos pensar o quão engraçado é uma bolsinha usada
para carregar uma página do alcorão (religião mulçumana) hoje em dia ser vista como feitiço africano.
Apesar que a Umbanda criou o costume de costurar bolsinhas
com algumas ervas ou sementes dentro para usar como talismã (proteção) ou para
outros pedidos benéficos a pessoa que irá carrega-lo, com o nome de patuá. Em
Salvador ou algumas outras cidades muito religiosas encontramos vários destes
patuás para vender, com a promessa de proteção, mais saúde ou dinheiro ao
portador do mesmo e etc..
As culturas se misturam em nosso país e descobrimos
histórias fantásticas conforme vamos pesquisando.
E você leitor, tem algum mito interessante para nos contar?
Khephra Terrance
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