Artigos mais visitados

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Mitos Afrianos: Macumba e Mandinga.




A minha amiga Calidora me pediu para divagar sobre um assunto muito conhecido no Brasil, que é usar palavras de conceito religioso afro como algo ruim ou perigoso.

Vou iniciar com a palavra MACUMBA.

Instrumento Macumba

A palavra “Macumba” é usada para se referir a feitiços religiosos contra outra pessoa ou “Macumbeiro” para se referir a pessoa que cultua a religião afro-brasileira, não diferenciando Umbanda ou Candomblé, que como já havia escrito anteriormente, em um texto sobre Exús, Candomblé é uma religião Africana, vinda dos escravos negros e Umbanda é uma religião Brasileira, na qual surgiu por causa de uma mistura de algumas culturas africanas e brasileiras, com catolicismo e espiritismo.
Inicialmente quero deixar claro que é impossível dar uma explicação única válida sobre alguma mitologia africana ou crendice, pois dentro da religião afro não temos um livro base como um alcorão ou bíblia. Tudo que é aprendido passa do Zelador de santo (Ou pai /mãe de santo) para filho, conforme seu tempo de religião e “merecimento”. Como a palavra é passada de boca em boca, algumas histórias podem ocorrer pequenas variações e/ou diversas histórias paralelas para a mesma coisa. Como vamos saber a real história? Bom, se for de mitologia, uma forma válida seria indo para a África conversar com os mais velhos sacerdotes ( O que acho bem difícil pois lá não temos a abertura daqui) ,ou podemos filtrar histórias parecidas e acrescentarmos ao nosso conhecimento. Umbanda e Candomblé é uma religião para se morrer ignorante. Nunca aprenderemos tudo a respeito.
Mas vamos aos conceitos mais lógicos relatados historicamente:
Inicialmente, a palavra macumbeiro só era utilizada para falar sobre pessoas que tocavam o instrumento musical de percussão africano chamado aqui no Brasil de Macumba. Acho que o melhor comparativo para explicar o que ele é seria o reco reco. Já li relatos que dizem a respeito de pessoas usarem o termo estão “tocando macumba”, quando ouviam o instrumento. Conforme foi passando o tempo, começaram a usar a palavra macumba para manifestação relacionada a religião.
Conforme Antenor Nascentes, mesmo sendo incerta a real origem da palavra, a mesma poderia ter sido ramificada da palavra africana Ma’kuba (Cadeado em Quimbundo, língua usada em casas de Candomblé mais antigas, como a Nação Angola). Sua explicação seria porque os ritos tratam de “fechar o corpo”.

Pesquisando no famoso GOOGLE encontraremos milhões de versões, umas mais lógicas e outras preconceituosamente ridículas. Mas o importante de tudo não é a origem, e sim termos a consciência que a mesma não vem de algo ruim ou perigoso.

Quero aproveitar para escrever sobre outro mito muito usado aqui no Brasil.

Quem já não usou o ditado “Quem não pode com a Mandinga não carrega patuá?” ou “Quem tem medo de mandinga não carrega patuá?”.

O que você pensa quando ouve a palavra Mandinga? Eu respondo: Feitiço.
Para entender este ditado precisamos ir lá atrás, na época da escravidão novamente.
Os mandingas eram negros africanos que seguiam a religião mulçumana.
Sim, nem todos os negros seguiam a religião conhecida como Candomblé no Brasil.
Como eles eram mais instruídos e “submissos”, geralmente tinham mais liberdade e confiança de seus feudos, sendo colocados como líderes dentro dos grupos de escravos.
Com esta liderança já imaginamos que caso algum negro tentasse escapar, os Mandingas eram responsáveis por trazer os fujões de volta e dar os corretivos para que isso não acontecesse novamente.
Para quem não conhece a religião mulçumana, os religiosos são obrigados a fazer orações diárias durante o dia.
Por isso os Mandingas usavam uma bolsinha costurada e pendurada no pescoço, com páginas do alcorão dentro que chamavam de Patuá!
Quando um mandinga ia à caça de um fujão e o mesmo também era mandinga, o “capitão do mato”, ou “líder”, passava o famoso “pano” por causa da afeição religiosa.
Aí vamos a parte principal.
Os escravos de outras tribos perceberam o privilégio e começaram a criar bolsinhas (Patuás) falsas com folhas ou papéis de qualquer tipo para não terem consequências caso fossem pegos.
Era uma excelente ideia não? Sim era, mas o que não contavam é que o Mandiga abria o patuá para ver a página do alcorão, então, vendo que estavam tentando enganá-lo, o negro fujão geralmente sofria retaliação permanente.
Agora podemos pensar o quão engraçado é uma bolsinha usada para carregar uma página do alcorão (religião mulçumana)  hoje em dia ser  vista como feitiço africano.
Apesar que a Umbanda criou o costume de costurar bolsinhas com algumas ervas ou sementes dentro para usar como talismã (proteção) ou para outros pedidos benéficos a pessoa que irá carrega-lo, com o nome de patuá. Em Salvador ou algumas outras cidades muito religiosas encontramos vários destes patuás para vender, com a promessa de proteção, mais saúde ou dinheiro ao portador do mesmo e etc..
As culturas se misturam em nosso país e descobrimos histórias fantásticas conforme vamos pesquisando.

E você leitor, tem algum mito interessante para nos contar?


Khephra Terrance





Nenhum comentário: